ARTIGO DE JOSÉ DARIO DE AGUIAR FIHO.
O SISTEMA
UNIFICADO DE SAÚDE E O PROGRAMA “MAIS MÉDICOS”.
Por
José Dario de Aguiar Filho (*)
Debate-se
constantemente na mídia em todos os recantos do país opiniões favoráveis e
contrárias ao programa “Mais Médicos”, do Ministério da Saúde. Não sou
especialista em saúde pública. No entanto, por oito anos (desde 25.01.94) fui
andarilho em todas as varas do trabalho instaladas nos diversos recantos dessa
unidade federada (até o dia 27/03/2001), e aqui cheguei (em 29/03/2001) para o
exercício como juiz titular da segunda vara desta cidade, à época da
administração FHC.
O assunto tem sido
propagado com um descabido discurso de natureza ideológica (direita x esquerda), o que se revela
inapropriado já que saúde pública e
desenvolvimento econômico se tratam de temas descolados de viés ideológico,
por se destinarem ao atendimento das
necessidades prementes da população.
Na administração e FHC,
fez-se opção pelo desenvolvimento no âmbito privado do Estado (Gramski) a
montagem de estrutura hospitalar, a qual lastimavelmente não pode suprir as
necessidades de nossa população e a satisfação pelo Estado brasileiro da justa
demanda de seus cidadãos por saúde. Em síntese, o sistema de saúde se encontra
agonizante e desestruturado.
Inúmeros são os fatores
que acarretam essa situação. O primeiro e principal deles
indiscutivelmente emerge da defasagem das tabelas de remuneração às estruturas
hospitalares, a exemplo das AIH
(Autorizações de Internamento Hospitalar), não reajustada há quase doze anos A
insuficiência dessa verba remuneratória acarretou o fechamento de diversas
unidades hospitalares nesta região, a exemplo dos Hospitais Duarte Filho, Casa
de Saúde Santa Luzia, Casa de Saúde São Camilo de Lellis, Master Dei, Samec Pediatria,
dentre muitas, além da quase totalidade das APAMINs desta unidade federada (Caraúbas, Dix Sept Rosado, etc...),
subsistindo apenas a daqui de Mossoró (RN), que em 2011 esteve prestes a
encerrar as suas portas e que atualmente se encontra na fase final de seu
definitivo saneamento. Sem ela o caos estaria consolidado, pois se trata da
maior estrutura do Rio Grande do Norte que presta assistência à população. A
todo mês realiza de 650 a 750 partos, inclusive de “alta complexidade”, sendo
seguido pelo Hospital Januário Cico, estabelecido na cidade de Natal, que
efetiva cerca de 450 partos por mês.
A situação é tão grave
no âmbito dos hospitais beneficentes (APAMINs e Santa Casas da Misericórdia)
que a administração da presidenta Dilma Iana Rousseff acertadamente se empenhou
e ultimou por aprovar pelo congresso nacional um processo de parcelamento de
obrigações fiscais e bancárias, para afastar o 'malasombro' representado pelo encerramento
de inúmeras estruturas hospitalares indispensáveis ao SUS.
Nos últimos meses
procurei entender o que realmente acontece e que esfera de interesses se
encontram contrários ao Programa “Mais
Médicos”!
Não tive grande
dificuldade para entender à razão do coro dos contrários.
Em verdade, toda a
estrutura hospitalar do país tem funcionado deficitariamente, salvo a parte de
procedimentos de alta complexidade, os quais guardam remuneração por
procedimentos que viabilizam a continuidade dos hospitais, suprindo os custos
de procedimentos deficitários.
A isso a de acrescer
que o grande e maior fluxo de despesas dispendidas com saúde pública se operam
no último ano de vida dos cidadãos (“um quarto de todos os gastos com saúde
ocorre no último ano de vida das pessoas”),
com dispêndios realizados com procedimentos em hospitais, com a utilização de procedimentos
de alta complexidade (“a maioria das pessoas desejarem morrer em casa perto dos
seres amados, 70% morrem no hospital ou na clínica após um longo embate contra
um câncer avançado, falência cardíaca, doença incurável ou incapacidades
múltiplas da velhice”).
A esse respeito,
leia-se o lapidar artigo da jornalista Acynara Menezes acerca de artigo
veiculado no sítio de jornalismo independente “Alternet”, do mês passado, do
Dr. Ken Murray, em artigo escrito para a revista online Zócalo Public Square
pensando que, com sorte, atrairia algumas dúzias de leitores e um comentário ou
dois, sob o título ‘How Doctors Die’ (Como Médicos Morrem), foi
traduzido em vários idiomas e recebeu resenhas do The New York Times, The
Wall Street Journal e The Washington Post (vide – http://socialistamorena.cartacapital.com.br//Como morrem os médicos).
E ao lado dos
interesses da cadeia hospitalar com os serviços e procedimentos de alta
complexidade se juntam os interesses da indústria fármaco-química, que fornecem
medicamentos para esses tratamentos.
Em resumo, sob o manto
dos argumentos dos contrários subsistem em verdade interesses econômicos
espúrios, pois eles mais do que qualquer outra pessoa ou segmento de resguardam
interesses empresariais sabem que o atendimento primário de saúde realizado
diretamente junto as populações reduzem os custos da saúde pública evitando que
as moléstias se tornem crônicas, afastando assim os grandes dispêndios com
procedimentos de alta complexidade realizados no último ano de vida dos
cidadãos, em decorrência de doenças crônicas. Em síntese, afastam os custos
mais onerosos do sistema de saúde (procedimentos médicos e utilização de
medicamentos) e reduzem os ganhos pomposos dos conglomerados hospitalares e da
indústria farmaco-química.
Tais
interesses escusos é que têm fomentado na mídia as campanhas sistemáticas
contra o Programa “Mais Médicos”.
Portanto, ao invés de
se combater a presença de médicos estrangeiros nas localidades do interior,
cabe às associações médicas e aos conselhos estaduais e federais de medicina
lutar pelo estabelecimento das carreiras médicas no país, com níveis de
progressão em níveis, com treinamentos continuados à distância e afastamento
para treinamentos em centros de formação, ao menos um mês a cada ano.
Ao tempo do INPS, os
médicos eram bem remunerados e se dedicavam às horas de trabalho no emprego e
ao labor em seus consultórios privados, ao final de seus expedientes.
Esta é a grande solução
para os médicos de verdade de fato e de vocação – a organização em carreira de
estado, com percepção de remunerações ao final de suas vidas, semelhantes ou ao
menos aproximadas ao que as estruturas estatais dispensam aos integrantes da
judicatura, do ministério público, dos agentes públicos integrantes da máquina de
fiscalização, etc...
Em minha vida trabalhei
para o Banco do Brasil S.A (doze anos) e para a Justiça do Trabalho (quase
vinte anos – a completar em 25/01/2014), destacando-se os quadros funcionais
dessas instituições, em razão de razoável nível remuneratório, decaindo a
qualidade do corpo funcional do Banco, com advento da redução da remuneração a
seus empregados, a partir da política iniciada no governo FHC.
A partir de hoje reforço
o coro dos que defendem a aprovação legislativa de uma carreira de médico e
demais funções da atividade da área de saúde de estado (enfermagem, dentistas,
nutricionistas, administradores hospitalares, etc...), a qual propiciará à
saúde da população e os interesses dos que laboram nesse importante segmento.
Para saúde de nossa
população precisamos de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros,
auxiliares de enfermagem, dentistas, nutricionistas, fisioterapeutas,
administradores hospitalares, etc...), nada existindo que justifique o coro
dirigido contra a presença de MAIS MÉDICOS em nosso Brasil ! Vamos realizar um
grande coro a construção de carreira de estado de profissionais de saúde! Não
há país grandioso e gigante sem população assistida por um sistema de saúde
atuante e eficiente.
Assim, cabe aos
verdadeiros brasileiros efetivamente comprometidos com a saúde de nossa
população encerrar o sectário e inadequado discurso contrário ao Programa “Mais
Médicos”, suscitando inclusive dúvidas contra a seriedade de propósitos do
Exmo. Sr. Ministro Alexandre Padilha e da senhora presidenta da república,
especialmente o argumento que tenciona viabilizar o regime cubano.
Não sou filiado a
qualquer partido político e como agente público encarregado de velar pelo
cumprimento das leis e pela preservação dos direitos da cidadania, cumpre se
posicionar a favor do que seja favorável à população, especialmente para os
mais modestos. “Mais médicos” e demais profissionais de saúde para os rincões
de meu país onde não existem profissionais de saúde.
Uma boa oportunidade
temos com os recursos do campo de libra, para dar-se início à carreira médica
de estado. Mãos à obra, pelos que administram nosso país.
Aqueles que tencionem
atribuir a minha atuação conotação partidária estão perdendo tempo, pois me
posiciono sempre a favor da cidadania, não me preocupando com o que os outros
dizem! Esse é um ônus dos que optam pela vida pública.
Mossoró (RN), 10 de
novembro de 2013.
(*) Juiz titular da 2ª Vara do Trabalho de Mossoró, RN e Mestre em Sociologia pela UFRN.
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