O BRASIL ACORDOU ? ?

O BRASIL ACORDOU?
Por Bernadete Cavalcante - jornalista e editora do blog ditobendito

Acompanhando a manifestação popular que, em efeito dominó, acontece nas principais cidades do Brasil, e sem enumerar os equívocos nem enaltecer as causas, tantas, que levaram às ruas milhares de brasileiros, numa marcha histórica, percebi nas diversas “propagandas” do movimento, em algumas frases de efeito mostradas nas passeatas e nas redes sociais, uma que considero um erro, usada para nominar ou conceituar o movimento: ” O gigante acordou”.

Isso soa, ou me parece, uma injustiça com as incontáveis lutas já travadas nesse país, inclusive em momentos mais duros, e bem recentes. Dizer que o Brasil acordou é negar um passado que é, e sempre será, exemplo para o que ocorre hoje e no futuro.

Os presos políticos da Ditadura Militar não estavam dormindo, e não foi por estarem dormindo que se transformaram em prisioneiros e sofreram as atrocidades da Ditadura, os desaparecidos políticos não continuam desaparecidos, até hoje, porque estavam dormindo. Wladimir Herzog não foi assassinado porque estava dormindo, Chico Mendes também não. Chico Buarque, Betinho e tantos outros brasileiros não foram exilados porque estavam dormindo. O massacre de Eldorado dos Carajás, no estado do Pará, com a morte de dezenove dentre os 1.500 sem-terra que decidiram fazer uma marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras, em 1996, não aconteceu porque esses brasileiros estavam dormindo.

Eu, na minha condição de cidadã, não estava dormindo quando fui às ruas pedir Diretas Já, nem quando fiz passeata de protesto pedindo a então ministra Esther de Figueiredo Ferraz, mais verbas para educação, em pleno governo do General João Batista Figueiredo. Eu não estava dormindo, quando vesti a camisa oPTei e fui ouvir as propostas políticas de um pequeno partido que nascia, parido num movimento que se mantinha acordado e lutando contra o Regime e a politica vigente.

Eu não estava dormindo quando assinei inúmeros abaixo-assinados com propostas populares a serem encaminhadas aos parlamentares constituintes,e na tentativa de construir a Carta Magna de 1988 mais justa para todos. Eu não estava dormindo quando defendi o congelamento de preços, na luta contra a inflação que corroía, como cupim, o salário dos trabalhadores brasileiros. Eu estava bem acordada , quando participei de movimentos e campanhas de combate à violência contra a mulher.

Enquanto estudante, nas lutas mais restritas, também não dormi. Eu não estava dormindo quando participei da ocupação da Reitoria da UFRN, nem estava dormindo quando colava cartazes, juntamente com outros colegas do curso de jornalismo pedindo eleições diretas para coordenador do curso de comunicação social. Também não estava dormindo quando fui, junto com tantos outros, pressionar para que o nome do professor Rogério Cadengue, primeiro de uma lista tríplice fosse indicado, porque naquele momento seria democrático respeitar a vontade da maioria, que o tinha escolhido.

Eu não estava dormindo quando bati panelas pelas ruas de Natal e entoei palavras de ordem que diziam: “arroz, feijão, cabeça de galinha não” num movimento de estudantes que protestava contra uma cabeça de galinha encontrada dentro do feijão servido no Restaurante do Campus da UFRN, pedindo comida decente e de graça para os universitários que dependiam do Restaurante Universitário.

Já como jornalista, eu também não estava dormindo em tantos outros momentos importantes de luta no meu país, no meu estado e no meu município, com as quais eu podia contribuir. Eu não estou dormindo agora, e por isso posso dizer que esse país sempre teve muitos dos seus filhos acordados e “levantados” do berço esplêndido. Filhos, sobretudo, conscientes e dispostos a transforma-lo num país melhor. O que não tinham era os meios para mostrar suas lutas, e como não se lê história no e do Brasil, há quem pense que vivíamos sonolentos.

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