ARTIGO.

ARTE DE VIVER SEGUNDO WALMIR AYALA

Poucos escritores brasileiros produziram tanto quanto o polígrafo Walmir Ayala [Porto Alegre, 1933-1991], que além dos incontáveis títulos publicados, em todos os gêneros, deixou-nos para mais de 100 obras inéditas que, por um esforço do herdeiro de seu espólio intelectual e critico literário André Seffrin, começam a chegar às mãos dos leitores.

Dessa produção inédita, acaba de sair O Desenho da Vida[Editora Calibán, Rio de Janeiro,2009], uma seleção de crônicas que compõem com sensibilidade e delicadeza inexcedíveis uma verdadeira arte de viver.

O Desenho da Vida, esteticamente elaborado por Cecília Jucá, abre com uma belíssima crônica sobre o significado do livro, escrita com a fluência que todos aprendemos a apreciar e admirar no autor cuja verve contempla os mais simples e variados acontecimentos do dia a dia, captados por um escritor bafejado pelos sortilégios da poesia, que é imortal e pobre.

Deixemo-nos cativar por seu ritmo que não escamoteia verdades profundas:
 
“Abrir um livro é como abrir um mundo. É como ter um tesouro, um tesouro que depende mais de quem lê do que quem escreve. A atenção, o interesse, a capacidade de transformar e de associar dentro de cada, é que dão a energia que o livro precisa para viver…”

Walmir Ayala, velho e bom amigo das horas alegres e amargas, precocemente falecido em plena forma, convida-nos a todos com a magia ilusionista de sua arte a despertar em cada coração a infância no que ela tem de inocência criadora e confiança permanente.

Particularmente sensitivo, passeia o nosso autor pelos mais variados temas sem perder a ternura jamais. E assim, como parte da sua arte de viver, ele se detém na poesia dos tapumes que escondem as construções um ar de novidade; e induz-nos a fazer um velho sorrir; tudo, enfim, lhe serve de inspiração para estas crônicas, como os gatos que davam uma graça especial à sua casa de Saquarema ou ao apartamento da Praia do Flamengo, 172. Eram três, a siamesa Salomé, egoísta de quem ele se dizia uma propriedade; o mestiço de angorá e viralata Rivelino, vaidoso, solerte e manso; e Bovary, viralata pura, a quintessência do ciúme e da desconfiança…

Parafraseando-o, diria que tudo o que Walmir nos deixou, como ser humano e escritor, são legados especialíssimos e parte dessa essência ayaliana está nesse reunido nesse pequeno e bem cuidado volume de suas crônicas postumamente publicadas. Aparentemente despretensioso, entre outras verdades imperecíveis esse livro nos ensina que as dificuldades, na vida das criaturas, vêm às vezes iluminadas de prazer se aprendemos a ocupar bem o espaço que nos coube nessa aventura que é a vida, seja ele qual for, estaremos livres e aptos a tornar outros felizes, pois “a felicidade é uma coisa que se pode dar, sem ter”.

Por Franklin Jorge - Jornalista (postado por O Santo Ofício )

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