ARTIGO.
SECA E FOME NA ZONA RURAL DA REGIÃO DE MOSSORÓ.
Por José Romero Araujo Cardoso
Tenho o
hábito de sair vagando pela zona rural da região mossoroense, visando
conhecer mais sobre as atuais condições de vida da população da área em
que resido, pois, dever do geógrafo que prioriza o humano em pesquisas e
análises, faz-se necessário constatar in loco quais problemas mais
agudos afligem o povo pelo qual se deve firmar compromisso a fim de
contribuir para a busca de soluções que erradiquem níveis
insatisfatórios revelados em indicadores socioeconômicos.
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A atual
situação apresentada pelo quadro natural da região semiárida, quando a
efetivação de seca dramática se responsabiliza pela exponencialização de
agudos episódios envolvendo a população local, vem intensificando a
fome, sobretudo na zona rural, espaço onde a produção de alimentos se
apresenta comprometida coma ausência de chuvas.
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Crianças
famintas são vistas com freqüência, pois se constituem elos frágeis da
situação aflitiva que se instala no campo com o recrudescimento da
intensa estiagem que assola o semiárido, sobretudo na região polarizada
por Mossoró, tendo em vista a intensidade da ação dos alíseos de
nordeste,viabilizada pela corrente marítima de Benguela, formados nas
imediações do Arquipélago dos Açores, os quais em consonância com a
opção desmedida pelo agrobusiness desestimula qualquer perspectiva de
incremento à agricultura familiar como fator de suma importância à
produção de alimentos que possam saciar a fome da população carente que
sofre de forma impiedosa com a tragédia climática que castiga a região.
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A fome vem
imperando em comunidades rurais espalhadas pela região mossoroense. Em
São João da Várzea, concentração populacional campesina localizada ás
margens da RN-117, caminho para os sertões potiguares e paraibanos, a
falta de alimentos vem penalizando seriamente famílias inteiras que tem
na agropecuária quase que a única fonte de renda a fim de manter os
membros das famílias.
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Não é
diferente a situação das famílias que habitam comunidades rurais ao
longo da citada rodovia estadual. No município de Governador Dix-sept
Rosado, a fome vem assolando impiedosamente, não obstante a proximidade
com o curso do rio Apodi-Mossoró. A ausência de infraestrutura que possa
permitir o aproveitamento do valioso recurso hídrico intensifica o
drama vivido pela população local, tendo em vista que é privilégio de
poucos dispor de recursos financeiros que permitam irrigar plantações e
dessedentar o criatório.
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A seca vem
destruindo plantações e matando o gado, deixando seres humanos em
situações calamitosas, com a desnutrição atingindo principalmente, de
forma inexorável, pequenas vidas que clamam por alimentos a fim de
saciar a fome atroz que assume proporções calamitosas a cada dia que
passa.
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Em
assentamentos rurais, aposta do governo federal a fim de repovoar o
campo, a situação não é diferente, tendo em vista que a falta de água e o
preço exorbitante cobrado para garantir abastecimento a partir de
adutoras, vem inviabilizando a permanência da população na zona rural
submetida, cada vez mais, de forma intensa, aos rigores da seca
histórica que vem trazendo desalento e desconfortos materiais e
espirituais àqueles que insistem em permanecer arraigado ao chão adusto e
causticante do semiárido em sua zona rural.
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A fome é
uma realidade cruel que vem se responsabilizando pelas mais dramáticas
situações de incertezas ao sofrido povo nordestino, sobretudo a parcela
que habita o semiárido. A seca vem intensificando quadro de pobreza
histórica que imemorialmente atinge deserdados do modelo adotado em
nosso país.
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Atitudes e
ações devem ser mais enfáticas do que retóricas discursivas, pois a
urgência que se descortina com relação à emergência do fazer imediato
pelo povo sofrido e carente dessa região intensamente castigada pela
seca e pela fome são condições sine qua non a fim de que o sentido da
solidariedade seja implementado imediatamente antes que a fome se torne
problema de graves proporções para a sofrida população de baixíssima
renda que vem sendo vítima do maior flagelo da humanidade, o drama
terrível da fome, denunciado intensamente pela grandeza e pelo humanismo
do cientista brasileiro Josué Apolônio de Castro.
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