ARTIGO.

PRESIDÊNCIA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS: LUZ AMARELA ACENDE PARA HENRIQUE ALVES.
Começam a surgir sinais de complicação na disputa pela presidência da Câmara. Embora a coalizão PT-PMDB seja ampla e forte o suficiente para, formalmente, bancar a eleição do candidato peemedebista Henrique Eduardo Alves, está no horizonte a repetição de um quadro muito frequente nas eleições para a Mesa: a anabolização de um candidato avulso pelas insatisfações difusas dentro da maioria e pelo fermento dos opositores. Até mesmo Ulysses Guimarães, no auge de seu poder parlamentar, enfrentou dissidentes duas vezes: Alencar Furtado, em 1985, e Fernando Lyra, em 1987. Na era petista, um conjunto de erros permitiu a eleição de Severino Cavalcanti, que acabou sendo desastrosa para a Câmara.

Henrique Eduardo Alves vem fazendo uma campanha convencional, ancorada no princípio regimental de que a presidência cabe ao maior partido e no acordo de revezamento entre o PMDB e o PT, já que são aliados e numericamente equivalentes. Assim, ele conseguiu até mesmo a promessa de apoio do maior partido de oposição, o PSDB. Agora, os problemas começaram a aparecer, recomendando muito trabalho e habilidade ao candidato, ao PMDB e ao PT e ao próprio governo, que conhece a importância do cargo para seus projetos e sua sustentação.

Primeiro vieram os sinais de que nem todos no PT gostariam de ver o maior partido aliado no comando das duas Casas do Congresso. Depois, delineou-se a disputa pelo posto de líder da bancada do PMDB, hoje ocupado por Henrique Eduardo Alves. Se mal resolvida, terá reflexos sobre a candidatura de Alves. Nesse ambiente, ganha gás a candidatura do deputado Júlio Delgado, do PSB, inicialmente vista como um jogo que lhe daria projeção e reforçaria a mensagem de que o PSB é aliado do governo, mas aspira a um projeto próprio de poder. Nos últimos dias, ele pisou no acelerador, reuniu-se com diferentes bancadas e líderes partidários e começou a elaborar uma plataforma. Calcula contar, hoje, com cerca de 150 votos na Casa de 513 deputados. Anteontem ele se reuniu com a bancada tucana, apesar da promessa preliminar de apoio já feita ao peemedebista. Fez um discurso objetivo e prático: a quem interessa ter o PMDB tão forte, mandando na Câmara e no Senado? Certamente não ao PT, mas este precisa do PMDB para governar. Com certeza, disse aos tucanos, essa situação não interessará, no médio prazo nem ao provável candidato tucano a presidente, Aécio Neves, nem ao talvez candidato do PSB, Eduardo Campos.

Até fevereiro, os tucanos podem refluir do compromisso com a regra da proporcionalidade, em nome da qual admitiram apoiar Alves, animados pela péssima conjuntura astral do campo petista. Eles estão desconfiados de que Alves prometeu ao PSD o cargo na Mesa que seria do PSDB, a Primeira Secretaria.

Mas, afora o adversário externo, Henrique Alves tem um complicado problema doméstico para resolver. Já são cinco os deputados que querem sua cadeira atual: Eduardo Cunha (RJ), Sandro Mabel (GO), Danilo Fortes (CE), Osmar Terra (RS) e Saraiva Felipe (PMDB). Eduardo Cunha hoje é o mais agressivo na busca por apoio, mas o PMDB, em especial o vice-presidente Michel Temer, teria que convencer a presidente Dilma Rousseff a aceitá-lo como líder. Ela herdou do antecessor Lula uma bronca com Eduardo Cunha. Relator da emenda constitucional que prorrogava a vigência da CPMF, ele cozinhou o assunto por tempo demais para forçar uma nomeação. Aprovada pela Câmara numa votação apertada, a emenda acabou caindo no Senado.

Tudo isso deve estar acendendo a luz vermelha do gabinete da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que deveria ter uma réplica no gabinete presidencial.
 
Por Tereza Cruvinel - em "O Santo Ofício"

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