ARTIGO.
A RENOVAÇÃO
DO PT
(Por Paulo
Afonso Linhares –
advogado)
Nos seres biológicos
a vitalidade se coloca na razão direta da capacidade de renovação
celular; a velhice nada mais é que a crescente incapacidade que o ser vivo tem de renovar células,
com reflexos múltiplos nos diversos sistemas, órgãos
e funções vitais, cuja falência
em nível generalizado e irreversível
impõe o estado de morte. A exemplo dos
biológicos, algumas entidades cujas existências
são
apenas ficções jurídicas
- dai serem conhecidas como "pessoas jurídicas"
reproduzem uma trajetória
de existência assemelhada ao ciclo vital dos
seres biológicos. A longevidade desses entes jurídicos-políticos
está na razão
direta da sua capacidade de renovação. Não
é
a toa que a Igreja Católica Romana é
uma das mais prestigiosas instituições do planeta graças
ao enorme fôlego de sobreviver por vinte séculos,
entre tempestades, cismos e cismas, com enormes perdas, mas, mantida a
essencialidade e, sobretudo, uma fantástica capacidade de adaptabilidade
aos novos cenários mundiais, traduzida da renovação
de seus quadros, métodos, doutrinas e ações.
Dessas ficções
jurídicos-políticas,
no mundo atual, poucas despertam tanto interesse quanto os partidos políticos,
pelo caráter especialíssimo
que têm de movimentar grandes contingentes
humanos em conflitos sociais, em grandes mudanças,
no explodir das paixões, nas guerras e em tantos outros
desatinos que a História registra, porém,
sem jamais deixar de ser apenas uma ideia capaz de aglutinar pessoas para o
desastre ou para a glória. O interessante é
notar que o partido político, cuja concepção
atual tem pouco mais de dois séculos, nasceu com a tarefa de
substituir a figura do príncipe no Estado moderno, segundo a
percepção aguçada
do filósofo italiano Antônio
Gramsci.
No Brasil, o partido político
ganhou feição institucional somente no primeiro
quartel do século XX, embora já
se falasse neles no período imperial (1822-1889), todavia,
como cópias mal-ajambradas dos "tories
" e "whigs" da Inglaterra vitoriana. Certo é que as experiências
brasileiras com partidos políticos tem sido fragmentárias
e pouco intensas, justo por subsistir, ainda, uma forte vocação
autoritária-individualista no seio das
classes dominantes. Entretanto, depois de várias
experiências de construção
de partidos de massa à direita, ao centro e à
esquerda, surgiu no final dos anos '80 do século
passado o Partido dos Trabalhadores (PT), como estuário
do que restou dos grupos derrotados militarmente pela forças
armadas regulares do Estado brasileiro durante a ditadura militar (1964-1985),
da facção progressista da Igreja Católica
e do florescente sindicalismo oriundo do movimento operário
de ABC paulista. Estas três vertentes marcariam a própria
a trajetória desse partido que, menos de três
décadas
após sua fundação,
chegaria à presidência
da República, com seu principal líder,
Luiz Inácio Lula da Silva sucedido, depois de
dois períodos presidenciais, pela também
petista Dilma Rousseff. Isto não é
pouca coisa se se levar em consideração
algumas mudanças estruturais ocorridas nos últimos
dez anos e que implicaram redução considerável
do nível de pobreza, sobretudo, produziu
um ciclo de estabilidade da economia de
longa duração em meio a uma enorme crise econômica.
Todavia, nem tudo foram flores no
arraial petista. Ainda no primeiro governo de Lula explodiu a crise do
"mensalão"' que pôs
em cheque algumas práticas do governo e ceifou mais de
noventa por cento da cúpula partidária,
cujo epílogo coincidentemente ocorre neste
momento em que o Supremo Tribunal Federal submete ao seu julgamento e condena -
até mesmo sem prova alguma, como no caso
José Dirceu - os principais
protagonistas daquele episódio,
inclusive em calendário que se pautou pelo das eleições
de 2012. A
despeito da severidade - inusitada - do julgamento do STF, que se pautou pela
política e atropelou preceitos jurídicos
fundamentais, o eleitorado não se influenciou, sufragando nas
urnas os candidatos petistas, em
especial no maior colégio eleitoral do país
que é o Município
de São Paulo. O mais interessante é
que a vitória de Fernando Haddad e de outros
prefeitos - a sigla elegeu 626 em 2012, obtendo 17,3 milhões
de votos - e vereadores (foram eleitos
5.185 pelo PT), mostra a vitalidade do PT, que continua a crescer de uma eleição
municipal para outra, tanto em número de votos obtidos quanto na
conquista de prefeituras municipais. Apesar da acirrada campanha feita pela
grande imprensa conservadora ( o PIG) e do revés
que tem sido o julgamento do "Mensalão", o PT se renova e segue
crescendo. Os números não
mentem.
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