ARTIGO.


PESQUISAS ELEITORAIS: MAL NECESSÁRIO? 
Por Júlio Ernesto Bahr


Depois de tantos furos e erros sucessivos, eleição após eleição, a gente acaba chegando à conclusão de que as pesquisas eleitorais se originam de três vertentes:

1- São compradas pelo político patrocinador interessado na pesquisa;
2- São favoráveis à linha política do(s) pesquisador(es), que escamoteiam os dados;
3- São resultado de metodologias suspeitas ou errôneas;

Presume-se que todas as pesquisas colham a intenção de voto diretamente com os eleitores, em entrevistas individuais. Existem, porém, métodos diferentes para escolher quem e onde entrevistar. O mais utilizado hoje no Brasil é o chamado método de cotas, adotado por três dos principais institutos de pesquisa de opinião do país: Ibope, Vox Populi e Sensus.

No Ibope, inicialmente, são feitos dois sorteios. O primeiro seleciona os municípios que comporão a amostra. O segundo elege setores censitários (unidade usada pelo IBGE, que corresponde a bairros ou regiões de, em média, 1.100 habitantes). Com esses dados em mãos, os entrevistadores saem pelas ruas com a obrigação de cumprir cotas proporcionais a sexo, idade e escolaridade dos eleitores. Segundo uma diretora do Ibope, em São Paulo “o que importa não é o tamanho da amostra e sim sua representatividade: todos os grupos sociais e regiões geográficas devem aparecer em proporção próxima à da população pesquisada”. Só que as distorções nas pesquisas do Ibope falam por si; alguma coisa deve estar muito errada nesta metodologia.

Já o instituto Datafolha prefere a “pesquisa por fluxo de ponto”, em que os entrevistadores passam horas num local de grande movimento de pedestres. Esse é o método mais rápido, porque não exige visitas a endereços específicos, mas requer um número maior de entrevistas. Aqui já dá para desconfiar: o patrocinador classe A da pesquisa, por exemplo, em São Paulo, manda os pesquisadores estacionarem na frente do Shopping Center Iguatemi e o candidato popular Classe D manda estacionar na frente da favela de Heliópolis. A metodologia estaria correta, mas os resultados…

Para montar o universo a ser pesquisado, o Datafolha utiliza informações sobre eleitores, obtidas do Tribunal Superior Eleitoral e dados sobre sexo e faixa etária com base no IBGE. O Datafolha não leva em conta, porém, dados sobre escolaridade ou renda familiar mensal. Já o Vox Populi usa dados censitários do IBGE e realiza um roteiro aleatório para escolha dos domicílios. O Ibope, por sua vez, seleciona probabilisticamente os municípios e leva em conta variáveis como sexo, idade, grau de escolaridade e dependência econômica.

A ordem das perguntas também distingue a forma como os entrevistados são abordados. Para não influenciar as respostas, o Datafolha evita perguntas que estimulem nomes de candidatos, partidos ou avaliações de governo antes das questões sobre em quem o eleitor pretende votar. Já outros institutos têm como método técnicas para “esquentar” o entrevistado – caso do Ibope, que faz as chamadas perguntas “quebra-gelo” para introduzir o entrevistado ao assunto (no caso, as eleições). Há empresas que optam em perguntar sobre a situação do País antes de aplicar os questionários da pesquisa. É comum entre institutos perguntas referentes ao grau de conhecimento sobre os candidatos citados nos formulários.

Donde se depreende que o melhor mesmo para o eleitor é ignorar os números das pesquisas, juntar o máximo de informações sobre os candidatos, tentar colocar a razão acima da emoção e no dia das eleições apertar o botão do candidato que mais se aproxime do seu modo de pensar, da sua linha ética e das suas convicções políticas. E depois ficar rezando para que a urna eletrônica não esteja viciada, como naqueles jogos eletrônicos que a polícia anda recolhendo por todo o país.

Entre pesquisas eleitorais e urnas eletrônicas, há muito mais mistérios e artimanhas do que nossa vã imaginação possa alcançar.

Julio Bahr é paulistano, publicitário, escritor. Membro Titular da Cadeira No. 33 da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina

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