CANINDEH ALVES*


CANINDEH ALVES*
     Francisco Alves de Souza (foto) ganhou o apelido de Canindé, aos cinco anos de idade, fruto de promessa da mãe que, vendo o filho perder muito peso, em consequência de febre amarela, valeu-se de São Francisco do Canindé, e jurou chamá-lo de Canindé Alves, caso vencesse a doença.
   Tempos depois, já homem de comunicação, ele adicionou o H e assinava Canindeh. Candindeh Alves é um raro caso de alguém que ocupou todas as funções numa emissora de rádio, sendo um autodidata. Ou seja, sem o conhecimento acadêmico, um profissional que aprendeu por si só, pela intuição e esforço próprio. 
   Canindeh nasceu em 16 de agosto de 1935, em Pau dos Ferros, primogênito de Maria Alves de Souza e do vaqueiro Manuel Alves de Souza. Quando Canindeh tinha quatro anos, seus pais migraram com ele e Estelina para Mossoró, onde nasceram Osmínia e Pedro Segundo, seus irmãos.
    Canindeh faleceu no sábado, dia 21 de abril de 2012, enquanto dormia, vítima de um infarto fulminante, aos 76 anos de idade.   
     Canindeh já havia passado por duas tragédias. Menino, viu enterrar o pai e, adulto, enterrou um filho com dois anos, Júnior.   
     Seu pai faleceu vítima de uma chifrada de boi, quando seguia com uma boiada, na Alagoinha. Canindeh tinha dez anos de idade. O avô materno, Pedro Alves Cabral, deu suporte à filha Maria Cabral, acolhendo-a em casa e encaminhou os netos, em especial Canindeh, que pegou no pesado, pois passou a trabalhar com um jumento, pegando água no rio Mossoró e vendendo de casa em casa, numa Mossoró que não tinha água encanada. 
     Poucos anos depois, o avô, Pedro Cabral, trouxe algumas vacas de sua fazenda no Riacho Grande e arrumou uma casa para Maria Cabral e filhos, no bairro Doze Anos, vizinho a Escola Moreira Dias, com um grande terreno, onde montou uma vacaria, para Maria tirar dali o sustento da família.         
     Canindeh ajudava a mãe e procurava subir na vida. Ficou sabendo de uma vaga para faxineiro no Cine Pax e passou a informação para o avô, que tinha amizade com Jorge Pinto, dono do cinema. Pedro Cabral pediu e conseguiu a vaga para o neto esforçado, então com quase quinze anos. De carteira assinada, Canindeh, que vinha de uma disciplina caseira, fruto da mãe rígida e severa, exerceu suas funções, varria todo o Pax, até que surgiu a oportunidade de ser promovido para auxiliar de operador de cinema. 
     Canindeh Alves, que passou a trabalhar somente na hora da exibição de filmes, mostrou interesse em atuar no serviço de amplificadora do cinema e, aos poucos, conseguiu uma vaga, pela boa dicção e voz, que ele creditava a ser um excelente observador das falas dos atores, já que assistia muitos filmes. Teve também uma experiência como locutor de parque de diversões nas horas de folga.
     Em 1955, com vinte anos de idade, passou a frequentar os corredores da emissora de rádio que acabara de ser inaugurada na cidade, a Rádio Tapuyo, onde Ivanilda Linhares, aquela que viria a ser sua esposa, era locutora e integrava o departamento comercial.  
     Surgiu a primeira oportunidade para Canindeh Alves numa emissora de rádio, quando fizeram um teste de locutor e ele foi aprovado. O fã passou a conviver com a musa e a história terminou em casamento, com cinco filhos, dos quais sobrevivem quatro: Neto, Ivana, Fátima e Vanusa.
       Canindeh Alves, de locutor-noticiarista, atuou também como locutor comercial, radioator de novelas, disc jóquei, apresentador de programa de auditório, redator, repórter político, diretor artístico e diretor geral da Rádio Tapuyo. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde atuou como locutor na Rádio Mauá e criou o programa Chapéu de Couro, Chapéu de Palha, que trouxe para o rádio mossoroense.
      Do Rio de Janeiro, Canindeh Alves foi convocado para retornar e assumir a direção geral da Rádio Tapuyo. Foi nomeado  Secretário de Comunicação, da Prefeitura Municipal, à convite do então prefeito, Dix-huit Rosado. Anos depois, ao deixar o cargo, Canindeh ousou abrir a primeira agência de propaganda da cidade, a Vanusa Publicidade, atividade que acumulou em seguida quando dirigiu o departamento comercial da Rádio Libertadora. Em outra oportunidade atuou no microfone da emissora, aos domingos, com o programa Chapéu de Couro, Chapéu de Palha, durante onze anos, e com o qual encerrou sua brilhante carreira, todo domingo, das 5 às 7h, na Rádio Difusora de Mossoró. Deixou um programa inédito gravado, a ser exibido.
     Não é fácil perder alguém tão próximo e tão bondoso, que só plantou o bem. Alguém que aprendeu com o avô, agricultor e analfabeto, as mais brilhantes aulas de cidadania, ética, honestidade e caráter e, assim, pôde transmitir esses valores para toda a família e amigos, através de atitudes que só honram aos que com Canindeh Alves conviveram.



(Por Lúcia Rocha, jornalista e prima de Canindeh Alves - detibau@hotmail.com - foto Azougue.com)

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