OS SANGUESSUGAS DA CULTURA.

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OS SANGUESSUGAS DA CULTURA
(Por Franklin Jorge - jornalista do Novo Jornal)

Quem tem acompanhado a nossa produção cultural nos últimos trinta ou quarenta anos fica com a impressão de que retrocedemos aos tempos do beletrismo, quando o acesso à informação era privilégio de poucos, e proliferavam os literatos e pseudo-intelectuais que se compraziam em saraus mundanos, como aqueles que ficaram famosos ao tempo do governador Alberto Maranhão.
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Hoje, o aparato informativo atingiu uma dimensão impensável antes do surgimento da Internet, porém a má qualidade cresceu na mesma proporção do que é produzido nos dias que correm, especialmente entre nós. Sob essa espantosa explosão de eventos culturais, percebe-se a prevalência da mediocridade sobre o talento, do primarismo sobre a verdadeira criação estética, denotando-se assim a falta de critérios da crítica e a exposição da incultura de autores que sequer possuem bibliotecas.
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Escrevo estas linhas pensando no assunto da moda: as campanhas de popularização da leitura das quais participam, como porta-bandeiras, indivíduos que aparentemente jamais cultivaram a prática da leitura ou deram provas de que possuem uma história ligada à leitura, como temos observado em meio aos figurantes desse carnaval que assoberba a cultura local com eventos e promoções que desmentem o mínimo critério.
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Em seu mais novo livro de ensaios, a escritora Ana Maria Machado – uma das três mulheres a integrar a Academia Brasileira de Letras – reflete sobre livros e práticas de leitura, assuntos que tem tratado em outras obras, tais como “Balaio”, que recomendo pelos preciosos ensinamentos de que carecem, entre nós, pessoas como a açodada professora Cláudia Santa Rosa, que cito aqui por sua incontentável fome de exibicionismo, como se a cultura – mesmo a cultura provinciana – fosse um furdunço qualquer…
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Figurinha carimbada dos noticiários, acaba de participar de mesa-redonda sobre leitura, promovida pela seção local da União Brasileira de Escritores, ao lado dos notórios deputado Fernando Mineiro e Chico Alves – que apesar de mamar na cultura há quatro décadas não tem nenhuma obra, e evidentemente nenhuma prática de leitura. São os sanguessugas da cultura, aqueles que tiram proveito desse segmento e que não sabem dizer onde canta o galo…
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Quem não costuma ler – adverte a acadêmica – não deveria fingir que está estimulando a leitura, porque no fundo nem sabe para que lado isso fica e acaba mais atrapalhando do que ajudando.
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Ana Maria Machado defende, em “Algazarra” [Companhia das Letras, 2011] que, para atingirmos a qualidade em termos de leitura, faz-se necessário “um ensino mais humanista, clássico, formativo, que incluísse filosofia, literatura e artes”, porém a escola, como a conhecemos, não proporciona o que se chama de “educação completa”, a não ser em colégios de alto padrão que enriquecem a grade curricular com atividades que de alguma forma implementam a experiência estética.
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Ora, se não somos capazes de distinguir um autêntico escritor – o que pressupõe talento e cultura amalgamados em um todo convincente – de alguém que vulgarmente publica livros, como podemos orientar a leitura de qualidade? A leitura que é ao mesmo tempo prazer e conhecimento? Creio que o governo desperdiça recursos investindo em ações que não resultam se não em equívocos e “oba oba”, nada mais.
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Essa mesa-redonda promovida pela UBE local é um atestado dessa distorção. Não acredito que nenhum de seus participantes tenha alguma coisa a ensinar sobre leitura, a deduzir-se do discurso público com que se apresentam ao julgamento da opinião.
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Finalizando estas linhas, dou a palavra novamente à grande ensaísta e educadora Ana Maria Machado: “É a leitura de jornais, revistas, principalmente livros, a leitura daquilo que faz crescer. Tanto a leitura de informação aprofundada, que aumenta os conhecimentos, como a de literatura – sobretudo esta”. Literatura de qualidade, é claro, e não produtos que saem da linha de montagem da indústria cultural.
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