ARTIGO.

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MUITO ALÉM DO RAZOÁVEL
(Por Paulo Afonso Linhares - jurista, professor e empresário)

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Muito tocante, posto que jocosa, a frase dita recentemente pelo mais do que centenário arquiteto Oscar Niemeyer, esse mito (ainda) vivo da civilização brasileira: "Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá, foi como criar um lindo vaso de flores prá vocês usarem como pinico. Hoje eu vejo, tristemente, que Brasília nunca deveria ter sido projetada em forma de avião, mas, sim, de camburão". 
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Tem razão o velho lutador das causas do povo brasileiro, pois é altíssimo o nível de degradação que atinge os altos escalões da República. Embora não goste de ser chamada de “faxineira”, de que não está a fazer tal “faxina ética” no ministério, a presidente Dilma parece não ter disposição de usar o belo jarro de flores como penico, nessa salada geral em que se transformou a política brasileira. E não para por ai. Algumas coisas que ocorrem neste país, na política, que são difíceis de acreditar.

O mais grave é que a degradação política e ética não ocorre apenas no nível da elite, mas, encontra-se fundamente instalada no corpo da sociedade brasileira. Veja-se o exemplo da sociedade nordestina, sobretudo nas áreas mais remotas do sertão, cada vez mais permeável à invasão (do lixo) cultural que escorre tanto pelas telas das TVs quanto mesmo pela Internet. A banalização de certas práticas sociais e a tolerância com o crescimento do tráfico de drogas, impõem novos perfis às comunidades sertanejas onde hábitos seculares são abandonados, outros jazem mesclados com motivos alienígenas muitas vezes incompatíveis com a cultura e até mesmo com fatores ambientais da região semi-árida. Bem ilustrativo dessa inadequação é o caso daquela jovem senhora que, numa festa em que seu marido inauguraria um novo empreendimento lá estava ela a envergar pesado casaco de peles que era capaz de aquecer mesmo um esquimó no rigoroso inverno ártico, enquanto ali na festa a coluna de mercúrio do termômetro escalava o trigésimo grau da escala de Celsius.

O colonialismo cultural do “sul maravilha” é mais que evidente. Com efeito, sob o influxo do processo de globalização padrões estéticos, culinários e até linguísticos atropelam as tradições locais e “pasteurizam” o modo de ser dos povos da caatinga. E já não se ouve o bom baião de Gonzaga, de Dominguinhos, os experimentos musicais de um genial Sivuca, ou os xaxados de Marinês e de Jackson do Pandeiro. Esses sons tão nordestinos não passam de vagas lembranças em nossos ouvidos. E isto não é nenhuma crise de passadismo, mas, a constatação da perda de traços importantes de cultura sertaneja.

Há práticas que iniciam sem que se saibam os porquês. Algumas chegam a ser hilárias, a exemplo dos carros de som que, em muitas cidades do interior nordestino, anunciam velórios. Hoje é comum vê-los a anunciar que “fulano faleceu às tantas horas e os parentes e amigos são convidados para o velório que está acontecendo em tal local e o sepultamento ocorrerá...” Incrível é como essa prática se generalizou, do mesmo modo como, nas dentaduras postiças que adornam os sorrisos sertanejos, brilham esses aparelhinhos metálicos que primitivamente serviam para correção ortodôntica. Bem, todo esse embananamento parece ter a mesma raiz do problema crucial, posto por Niemayer, de se querer usar como penicos bonitos jarros de flores.
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Comentários

Rui Nascimento disse…
Nunca pensei em minha vida, nesses meus 43 anos de idade, ter que dizer o que infelizmente e com muita tristeza passa pela minha mente: com um Congresso Nacional tão ruim, com uma classe de políticos tão ruins (com raríssimas exceções) como a que aí está não seria demais pensar em fechá-lo, fazer uma limpeza ética e reabri-lo, tornando inelegíveis, pelo resto da vida e proibido de exercer cargo público, qualquer um dos que lá estão hoje e que tenham, comprovadamente, tido qualquer envolvimento com qualquer tipo de atitude ilícita que macule o caráter do indivíduo. Talvez assim, tivéssemos dando o primeiro passo para, quem sabe, promover uma limpeza na corrupção que denigre a imagem deste país e deixa a sociedade a mercê dessas quadrilhas engravatadas.

Não à toa, como diz o texto, Niemayer se arrepende de ter desenhado Brasília em forma de avião, quando hoje percebe que o correto seria tê-la desenhado em forma de camburão, tal a corja de imorais, indecentes, verdadeiros bandidos travestidos de gente de bem, que lá se instalaram e dela se apropriaram a pretexto de representarem o povo.

Talvez já tenha chegado a hora de Niemayer, no alto da sabedoria de seus 103 anos de idade, fazer um novo desenho, para uma nova capital, agora sim, em forma, desta vez de “caveirão”, pois um camburão já não comportaria a quantidade de seres indesejáveis que poluem a política dessa nação verde-amarela e que contamina nossa sociedade e tira pouco a pouco a esperança de nosso povo usufruir com igualdade as riquezas com as quais Deus nos beneficiou.

Uma coisa é certa: não seria mais o Planalto Central a acolher uma nova capital. Quem sabe o meio da Floresta Amazônica, cercada de rios, igarapés e povoada por onças, jacarés e sucuris ou mesmo o meio do Oceano Atlântico, povoado por tubarões, seriam os melhores lugares a acolher essa turma que tem como “hobby” se apropriar do que não lhes pertence. Pelo menos nesses lugares eles teriam com quem se comparar (cobras, lagartos, aves de rapina e tubarões), só não daria para brincar com eles, igual fazem com o povo!

Ironias e comparações à parte, ta na hora da sociedade reagir e tomar providências, banindo através de sua arma mais poderosa, o voto, os traidores de suas esperanças, isto, antes que fascistas ou neonazistas disfarçados de democratas resolvam agir empunhando a falsa bandeira da ordem e levantando falsas esperanças de mudanças, ao custo de nossa liberdade e democracia, estas, conseguidas à duras penas e com muita dor e sofrimento, pois a luta de uma sociedade por liberdade e justiça social tem que ter como princípio básico a ação popular, o desejo do povo e não de pequenos grupos que se autoproclamam representantes de toda uma sociedade e que, conseguidos os seus intentos, sabemos como agem: à margem da sociedade, nos intramuros do poder, traindo assim aqueles a quem diziam defender, como vimos num passado não tão distante.

Então vamos à luta. Não há poder que resista a força e a vontade do povo! As ações populares mundo afora, neste início de década, mostram bem e reforçam a idéia de que “todo poder emana do povo”.

E viva a democracia!

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