- DESEMBARGADOR SARAIVA SOBRINHO CONCEDE ENTREVISTA EXCLUSIVA

O Desembargador Francisco Saraiva Dantas Sobrinho, concedeu entrevista exclusiva ao radialista/jornalista Kabi da Costa Lima (WWW.AZOUGUE.COM) , cujo conteúdo reproduzimos abaixo, lógico, com a aquiescência desse grande comunicador.
DESEMBARGADOR SARAIVA DANTAS SOBRINHO
"Fui auxiliar de cozinheiro, de garçom. A minha vida no período resumia-se à Rádio Nordeste e ao Colégio Winston Churchil. Eu queria ser médico. Arrependo-me até hoje de ter sido um universitário relapso. Eu fui ameaçado de morte em Pendências e aqui em Mossoró. Eu sou aquele homem que chora..."
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Azougue – Aos 11 anos de idade já na batalha pela sobrevivência?
Saraiva Dantas Sobrinho – Eu nasci em São Tomé, vim para Mossoró, depois Natal e em 1960 meu pai, senhor Pedro Saraiva Dantas, funcionário federal, foi transferido para o território federal de Fernando de Noronha e lá eu o ajudava como auxiliar de cozinheiro, faxineiro, garçom, porém sempre com atenções voltadas para os estudos e lá concluí o curso ginasial. Meu pai, homem de raízes e comportamento muito humildes, percebeu em mim perspectivas de crescimento e me mandou então de volta para Natal, onde fui morar com uma tia. O interessante é que mesmo sabendo das condições precárias da Casa do Estudante, eu batalhei para arranjar esse espaço, por entender que aquela morada seria a minha primeira grande lição de vida. Infelizmente, mesmo com várias tentativas, não tive a honra de ser mais um aluno pobre abrigado naquela casa, fato que eu lamento até hoje.
Azougue – Na Rádio Nordeste, o primeiro emprego?
Saraiva Dantas Sobrinho – E o convite partiu de Joelmir Gomes, reforçado pelo então diretor artístico (estou falando a linguagem da época) Franklin Machado. Olha, eu não sabia nem o que era um gravador (aliás, esse seu, Caby, é do tempo do bumba, risos). Entrei na rádio, vi um mundo completamente diferente, presenciei no estúdio o Zé Antonio atuando. Tudo, tudo muito fascinante. Atraquei a oportunidade e fiquei como repórter do departamento de rádio-jornalismo. Eu gravava O Globo no Ar da Rádio Globo, BÔ.BÔ (imita a vinheta com eco), cuja matéria era reproduzida uma hora depois nas vozes de Luiz Caldas, Batista da Silva. A minha vida no período resumia-se à Rádio Nordeste e ao Colégio Winston Churchil, que tinha como diretor o major Cornélis Figueiroa. O detalhe é que cabeludo lá não entrava e eu tive que derrubar o meu black power (risos). No Colégio Churchil eu fiz o científico.
Azougue - A condição de radialista era também um sonho ou uma simples necessidade de sobrevivência?
Saraiva Dantas Sobrinho – Por absoluta necessidade de sobrevivência, exatamente no final do ano 1971 e dentre as muitas figuras com quem convivi tive o prazer de lhe conhecer quando da sua contratação para o departamento esportivo cujo comandante era o saudoso Audi Frazão Doudemnt (1975). Logo após a minha aprovação no curso de Direito, fui também aprovado no concurso promovido pela prefeitura e passei a exercer a função de agente de cadastro imobiliário, pouco tempo depois já chefiava esse departamento.
Azougue – E aí, já se via juiz de Direito?
Saraiva Dantas Sobrinho – Nem de longe. Eu queria ser médico. Fiz vestibular, fui reprovado, em seguida tentei Jornalismo e nova decepção, somente aí é que veio a lembrança do curso de Direito e lhe confesso com toda honestidade. Fiz o vestibular simplesmente por fazer. Até então jamais me via advogado, imagine então, juiz, e, por conseguinte, desembargador.
Azougue – Efetivamente então, veio o curso de Direito?
Saraiva Dantas Sobrinho – Veio, mas em função das duas bombadas em vestibulares anteriores. Eu tenho que confessar, e que esse depoimento sirva para os mais jovens, que brinquei muito quando cursava Direito. Somente quando me despertei para ser juiz, foi que percebi os erros que cometi em não ter mergulhado de corpo e alma na faculdade. O tempo me abriu espaços para a devida recuperação, porém, e aí é que faço esse alerta, às vezes o próprio tempo se constitui no seu maior adversário.
Azougue – Muito tempo na advocacia?
Saraiva Dantas Sobrinho – Pouquíssimo tempo. Passei apenas um ano advogando e devo ter participado nessa fase de apenas duas audiências. Na verdade, praticamente eu não tive tempo de advogar. Concluí o curso no final de 1978 e em 1980 eu já era magistrado. Digo que, infelizmente, eu não tive tempo de atuar na admirável condição de advogado.
Azougue – Como se deu o início de Saraiva Dantas Sobrinho, juiz de Direito?
Saraiva Dantas Sobrinho – Há pouco falei que me arrependo até hoje de ter sido um universitário relapso e paguei pelo erro. Assumi a primeira comarca na cidade de Pendências e somente no dia-a-dia foi que aprendi como presidir uma audiência. Honestamente que não ter enxergado de maneira correta a faculdade e o pouco tempo de advogado são companheiros absolutamente “inadequados” para aquele que tem como realização de sonho a magistratura. Digo e repito: isso aconteceu comigo.
Azougue – Esses fatores fizeram o senhor cometer alguma gafe?
Saraiva Dantas Sobrinho – Exatamente por conta do que já citei, cometi e me recordo de uma interessante. Eu presidia uma audiência em Pendências, ao meu lado dois bons advogados, e em pauta o direito de posse de uma propriedade. Argumentos de todos os lados e eis que acontece uma pequena discussão. Bati na mesa e “pedi” a palavra pela ordem. Eu como presidente tinha que “determinar” e não “pedir” a palavra. Observe o quanto à falta da prática forense pode ser prejudicial. Por isso, acho que um advogado deve ter pelo menos cinco anos de atuação para então almejar ser juiz.
Azougue – Depois de Pendências, foi a vez de vir para Mossoró?
Saraiva Dantas Sobrinho – Não eu estive por um bom período na cidade de Apodi e somente em 1985 foi que assumi a comarca desta abençoada terra de Santa Luzia.
Azougue – A sociedade mossoroense diz que foi exatamente o dr. Saraiva Dantas Sobrinho quem deu a real visibilidade que a Justiça merece, principalmente com os júris populares. O entrevistado comunga com esse pensamento?
Saraiva Dantas Sobrinho – Prefiro lhe dizer que quando cheguei a Mossoró, no ano 1985, eu procurei despertar o sentimento de justiça do povo dessa amada terra. Em todos os júris eu sempre colocava que a justiça não seria feita pelo juiz e que eu faria tudo aquilo que por eles fosse decidido. Condenar ou absolver. Com esse pensamento sempre exposto nas sessões, eu acredito que estimulei a sociedade a se cobrar mais, a botar pra fora o grito de justiça que muitas vezes, por medo ou, quem sabe, pela ausência desse grito de alerta, deixou de existir. Nesse aspecto, de maneira humilde, entendo que fui parte de certa forma importante, nesse processo sempre progressista da eternamente encantada Mossoró.
Azougue – Quando o júri absolvia um réu que merecia passar muito tempo na cadeia, qual era a sua reação?
Saraiva Dantas Sobrinho – A decisão do júri é suprema, agora quando existia uma condenação ou uma absolvição e que eu tinha certeza, por conhecimento absoluto das peças dos autos, que naquele instante a injustiça tinha imperado isso me maltratava de maneira considerável e por muitas vezes eu cheguei a externar esse meu raciocínio. Eu sabia que o réu solto iria praticar novos crimes. Por muitas vezes, lamentavelmente, isso aconteceu.
Azougue – Com tantos anos atuando na vara criminal, nunca lhe foi feito nenhuma ameaça de morte?
Saraiva Dantas Sobrinho – Eu fui ameaçado de morte em Pendências e aqui em Mossoró. Quando um juiz cumpre a lei que ocasiona prejuízos a pessoas que, por sua vez, imaginam-se sólidas, fortes, por disporem de bons recursos financeiros e às vezes contam com a proteção política, geralmente os primeiros passos seguidos são o de intimidar o magistrado. As ameaças em Mossoró foram concretas, que me fizeram tomar a precaução de andar acompanhado de seguranças que usavam a farda da competente Polícia Militar. Friso que essas ameaças se manifestavam através de cartas e telefonemas. O que posso também lhe afirmar é que facilmente essas pessoas foram identificadas e dentro da própria justiça receberam a pena que lhe competiam. Azougue – O juiz Francisco Saraiva Dantas Sobrinho, se via desembargador?
Saraiva Dantas Sobrinho – Aí sim, eu entendia que esse caminho já estava muito próximo de ser trilhado e foi exatamente aqui em Mossoró, anos 1985, 1986. Essa cidade projeta muito bem os bons profissionais. Com orgulho eu digo que Mossoró me fez acreditar desembargador, o que recentemente aconteceu.
Azougue - Quem é o senhor Francisco Saraiva Dantas Sobrinho?
Saraiva Dantas Sobrinho – Vou lhe responder a pergunta com muito prazer. Ainda existe a imagem de que o juiz, o desembargador, em face das suas grandes responsabilidades, é aquele cidadão eternamente austero. Ledo engano. Eu sou um homem que escuta, ri e conta anedotas. Eu sou aquele homem que chora e que não tem vergonha de demonstrar em público que a sua emotividade falou mais alto. Em roda de amigos discuto futebol e por aí vai. Agora, eu não rio, nem choro, não tomo nenhuma iniciativa que não possa ser considerada justa.
Azougue – Receba o nosso abraço e um melhor muito obrigado pela entrevista.
Saraiva Dantas Sobrinho – O agradecimento é todo meu e finalizo dizendo que no meu coração sempre existirá um espaço muito aberto para Mossoró.
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