-ARTIGO

MAIS QUATRO ANOS DE LEMBRANÇA

Uma tristeza a solenidade ocorrida na última quinta-feira, na Assembléia Legislativa, quando houve a posse dos deputados eleitos para a nova legislatura. Uma velha mendiga agachada num canto da praça 7 de Setembro, encurralada entre as pernas dos soldados da Polícia Militar que protegiam os políticos, dizia, entre melancólica e desconfiada: "Nada de novo no front."
Finalmente os desaparecidos soldados da PM deram o ar de sua graça. Eles só aparecem nessas horas, para acobertar e blindar os políticos em solenidades públicas. A população não vê um mísero soldado desses para lhe dar guarida durante os 365 dias do ano. A não ser, bem, para abatê-la e aos seus filhos, entregues à sanha do tráfico, na ausência absoluta de emprego, nos subúrbios, em operações as mais absurdas.
Um trabalhador, que vive do seguro desemprego, e que teve a perna cortada por implicações diabéticas e imposições médicas, era mais enfático. Em meio ao empurra-empurra dos guardas, que tentava manter a multidão a uma distância que deixasse fora de risco os chamados representantes da população, dizia sem meias-palavras: "Uma catrevage. Pra nós, cativos aqui da mendigagem, de pouco adianta. teremos mais quatro anos de pabulagem e lambança."
Com efeito, como a grande maioria da população não chega a ler jornais - e mesmo se os lesse, engulharia -, perdeu uma nota publicada num dos poucos periódicos que ainda se pode manusear, com o cuidado de pular as páginas que falam de política e estampam os patranheiros, em suas gabolices. Trata-se de uma confidência feita por um de nossos "deputados", pouco conhecida, portanto, mas que merece ser do conhecimento de nossos eleitores.
Estava na coluna Hoje na Economia, assinada por Marcos Aurélio de Sá, administrador do Jornal de Hoje, na edição da quinta-feira, 25 de janeiro de 2007. Dizia a manchetinha: "Deputado oferece emprego na Assembléia pela quitação de uma dívida de campanha". E vinha o texto:
"Esta semana, um político reeleito para a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte – que constituiu pesadas dívidas (inclusive perante agiotas) durante a última campanha eleitoral e no momento se encontra em dificuldade para quitá-las –, saiu-se com a seguinte proposta diante de um dos seus credores, a quem deve o valor de R$ 100 mil:
'Não tenho como pagar tão cedo o que lhe devo. Mas faço a seguinte proposta: você indica uma pessoa, que pode ser um seu filho ou alguém de sua inteira confiança e eu a coloco no meu gabinete com salário de R$ 4 mil pelos próximos quatro anos, sem necessidade de ponto. No fim de cada mês essa pessoa lhe repassa o dinheiro.'
"E tirou do bolso uma calculadora financeira, fez conta rápida e apresentou-a ao credor, argumentando que ele estaria fazendo um grande negócio, mais lucrativo do que se recebesse o pagamento de uma tacada. Pelo que se comenta nos meios políticos, essa estratégia é bastante comum na chamada 'casa do povo', onde cada parlamentar tem direito de contratar ao bel prazer um certo número de assessores."
É claro que nem todos merecem o emplacamento e a pecha de astuciosos, de capadócios. Entre os elementos que irão representar a população potiguar por mais quatro anos na Assembléia Legislativa tem aqueles mais ambiciosos e vorazes. Basta dizer que o ex-governador, ex-senador e ex-deputado federal Lavoisier Maia, ex-marido da governadora, pai de Márcia Maia (PSB/RN), deputada também favorecida pela população, primo do senador José Agripino Maia (PFL) e de João Maia (PL), este paraibano também "abençoado" pelos eleitores com um mandato federal, o velho médico ginecologista paraibano agora outra vez alçado à condição de deputado estadual, por "generosidade" de nossos eleitores, e que tomava posse naquela mixórdia, quis abandonar o cenário político nacional em grande estilo, ganhando manchetes na imprensa brasileira. Isto por abocanhar em torno de R$ 100 mil apenas no mês de janeiro, como suplente de outra sumidade potiguar, na Câmara Federal. Conforme conta o repórter Marcelo Rocha, do Correio Braziliense, na edição de 25/01/2007:
"Suplentes de deputados empossados no início de janeiro para cumprir apenas 30 dias de mandato-tampão gastam o dinheiro público como se o Parlamento estivesse em pleno funcionamento. Prestação parcial de contas revela que alguns não precisaram de um mês para torrar toda a verba indenizatória de R$ 15 mil a que têm direito. Para trabalhar durante o recesso, os suplentes ganham ainda R$ 12,8 mil de salário, auxílio-moradia de R$ 3 mil e R$ 50 mil para gastar com salários de funcionários, além de oito passagens áreas.
"Dos 22 que tomaram posse, nove receberam ressarcimento até ontem. Lavoisier Maia (PSB-RN) usou cada centavo da verba indenizatória com despesas de viagens e combustíveis, segundo informação da Câmara. Só com gasolina, ele pediu para ser ressarcido em R$ 4,5 mil, o equivalente a 1,7 mil litros se considerarmos cada um a R$ 2,65. Desde 1º de janeiro, dia em que o potiguar tomou posse, se passaram 17 dias úteis. Isso significa gasto médio de 100 litros/dia. Se for levado como base um carro que faça 10 quilômetros/litro, o suplente rodou mil quilômetros diários ou 17 mil quilômetros durante o período — uma viagem à China. Talvez, por rodar tanto, é que Lavoisier apresentou documentos referentes a R$ 10,5 mil com despesas com viagem, como alimentação." Agora, o velho morubixaba entrega-se à faina doméstica, com suas aprontações na terrinha, onde a imprensa fecha sempre os olhos, a Justiça deixa suas cavilações em paz e tudo fica por isto mesmo — quem vai encarar!?!
Enquanto isto, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aplicou nova derrota aos desembargadores de sete tribunais de justiça, incluindo o do Rio Grande do Norte, que queriam manter salários acima de R$ 22.111. Eles resistiam ao enquadramento às normas da Constituição sobre o teto salarial. O CNJ rejeitou na quarta-feira passada as justificativas dos sete tribunais de justiça que queriam manter os supersalários e confirmou esse limite de remuneração dos desembargadores e determinou o corte das verbas excedentes na maioria dos casos. A situação salarial abstrusa se verificava, além do RN, em MG, MT, PB, MA, AC e AP. Foram detectadas irregularidades em todos eles. O CNJ decidiu abrir processos administrativos nos sete Estados para apurar responsabilidades pela omissão de informações e pela manutenção dos supersalários. (por Paulo Augusto - Jornal de Natal)

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