ARTIGO

Bloguismo
Também aderindo à moda do "bloguismo" o meu amigo Paccelli Gurgel, que hoje, nos ares da Paraíba, brilha como professor universitário e como músico. Do seu Blog (http://www.paccelligurgel.blogspot.com), fisguei o artigo a seguir transcrito. Uma verdadeira pérola. Confiram:
Cidades (publicado originalmente em 05 julho 2002)
Escrevo madrugadinha, malas prontas a esperar o fechamento do texto e seu envio à redação. Após o que, me levo a mais uma visita à cidade de origem, seus becos e esquinas, reentrâncias e saliências. A medida em que os anos passam, a sensação de ansiedade que se gerava ante a expectativa do retorno (mesmo que breve) é substituída por uma vaga melancolia, como que antevendo estéril desencontro. Correm os anos e falta assunto. Tenho pouco a dizer a minha cidade natal e, me parece, ela menos ainda. É como encontrar aquele amigo de infância depois de tempos de separação. Superada a fase da efusividade, fica aquele vazio causado pela falta do que dizer em função do total e mútuo desconhecimento do que se anda fazendo. E assim parte-se para as banalidades inócuas do tipo “tem visto fulano?”, mesmo se lixando para seu paradeiro. Ocorre o mesmo em relação à terra nativa quando dela nos afastamos por tempos. Quase não temos assuntos que sustente meio copo de chopp. E partimos para os lugares comuns. Literalmente, passamos a ser meramente mais um transeunte em lugares mais que comuns. A cidade reage a nossa ausência negando-nos suas intimidades. Reserva pra você a mesma receita insípida e impessoal que guarda aos turistas. E como reclamar?
Ver uma cidade mudar de forma homeopaticamente paulatina, todas as manhãs ao acordar, ameniza o choque da mudança. Você também muda a cada manhã, de forma que tudo se encaixa num ciclo de renovação que, creio eu - esse descrente - se encerra no último suspiro. Devagarzinho a urbe se estica para os lados e para cima, adota modas, descarta manias... Tudo muito lentamente sob nosso remelento olhar matinal. A vila muda, mas pouco damos a crer, pois a capacidade de absorção humana tende a transformar o novo no velho o mais rápido que se não se deseja. Em contraponto, assistir uma cidade vestir-se de novas formas e cores, a intervalos de meses ou anos entre cada relance de olhar, é comprar, de início, sobressaltos, e a posteriori, percebe-la de forma rasa, na sua acepção mais básica: um monte de concreto disposto de forma sistemática em ruas e praças. Assim, encerro essas linhas e tomo a estrada a mais uma vez visitar esse aglomerado de logradouros que me é vagamente familiar.
Mas, diante de toda a estranheza, recuso-me a deixa-lo de vez. Sempre retorno. E retorno armado de pá e picareta, tratores e beligerância. Ando por bairros inteiros a demolir impiedosamente essas descabidas e recentes estruturas que me engoliram pracinhas e terrenos baldios. Escavo calçamentos e asfaltos em busca da terra de areia fina tão apropriada aos jogos infantis. Correndo coração adentro, ressucito pessoas e lugares, costumes e cheiros, sabores e sensações. E depois que a poeira baixa dessa sanha demolidora, minha cidade brilha novamente em suas feições originais, tão caras a tantos... Exultantemente livre, ela ri para mim, sua face dividida em duas por uma indiscreta lágrima de felicidade, corrente e líquida como o Rio Mossoró que a separa em partes...

Comentários

Anônimo disse…
Meu Dileto e Raro Amigo
O carinho que lhe dispenso tem respaldo nas mesas dos bares de uma boemia já finda, atropelada que foi por esse carnaval de banalidades que a gente - nossa geração - assiste de queixos nos joelhos. O seu blog é um farol neste oceano de pífias palavras que a grande midia construiu para si e que se alimenta de afluentes magros e sem sustância de fazedores de frases cheias de vácuo. Grande e carinhoso abraço. Minha escrita mal-ajambrada ganha um realce que não lhe é merecido ao assentar-se no seu blog.
Conversamos sobre o grande encontro entre a "Banda H" e o "Arlequim Rock'n'Roll Band". Em breve, muito em breve.
Semrpe seu irmão de mesas e claves
Paccelli Gurgel

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