ARTIGO


Eu não sabia e Raimundo também não.
Cada vez que vejo os novos escândalos envolvendo o Partido dos Trabalhadores, sinto um misto de tristeza e indignação. Tristeza porque durante toda a minha vida estudantil e mesmo depois, acreditei que o PT era o “diferente” dentro da política brasileira. Nunca fui filiada ao partido, tampouco militante, mas fui uma eleitora de “carteirinha” do Lula em todas as suas tentativas de chegar a Presidência da República.
Mesmo sem integrar de forma atuante o movimento estudantil da década de 80, quando ingressei na Universidade (exceto em algumas participações isoladas do curso de comunicação social, como no caso da lista tríplice em que queríamos a indicação do jornalista Rogério Cadengue, para chefe do Departamento), a política não era algo à parte em minha vida, participava, sem a dedicação exclusiva de alguns colegas, do processo de mudança que comunidade universitária e a sociedade civil organizada defendia.
Meu amigo Raimundo de Mundoca, como eu costumava chamar o (hoje) anestesiologista Raimundo Benjamim, foi o responsável pela minha adesão as idéias do “companheiro" Lula. Raimundo não só me convencia a ir a Praça Gentil Ferreira, ouvir a pregação do “Reformador do Brasil”, como ainda me incentivava a comprar a tradicional camiseta branca com o bem bolado “OPTEI” criado pelo grande gênio da publicidade, Carlito Maia.
Lula era o máximo!
Ser PT era ser moderno e qualquer um que não fosse era rotulado de atrasado. Havia toda uma ditadura de hábitos, de roupas, de e até de leitura. Lê “As Veias Abertas da América Latina”, parecia tarefa obrigatória. Mas, ir a Gentil Ferreira, nas poucas vindas do Lula a Natal, tinha todo um charme. Eu e Raimundo caminhávamos de Petrópolis ao centro da cidade, para tomarmos um ônibus até o Alecrim, mas a grande massa nem olhava para aquele homem de jeans, camiseta estereotipada e barba mal feita.
Com o tempo, os adeptos do Lula foram aumentando, o líder virou um fenômeno nacional e a abertura política trouxe de volta o direito de se votar para Presidente e, em 1990, Lula entrou na sua primeira disputa. Artistas, escritores, estudantes, intelectuais, religiosos aderiram a sua candidatura e cantavam entusiasmados e confiantes o LULA LÁ. Todos acreditavam na mudança e repudiavam o “galã letrado” Fernando Collor de Melo.
Mas a possibilidade de vencer as eleições, foi “abortada” pelo denuncia da proposta de aborto, feita por Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, um episódio que marcou profundamente aquela campanha e que se tornou um dos maiores escândalos. Um fato corriqueiro, mas que ganhou uma dimensão sem precedentes. Que homem nunca propôs ou ainda propõe a uma mulher, cuja gravidez é indesejada por ele, a opção do aborto? Todos diziam na época que o episódio desestruturou Lula e a sua participação pífia num debate consolidou o fim do sonho de vencer aquela eleição.
Vieram mais duas tentativas e até Leonel Brizola engoliu o sapo barbudo, já que o PT começava o seu “programa” de abertura às alianças, ciente de que sozinho não chegaria a lugar nenhum. Em 2002, Lula deixou o lado xiita do Partido, fez as alianças que lhe foram convenientes e chegou ao tão sonhado posto, prometendo o que não podia e fazendo, ou deixando fazer, o que não devia.
E é nesse ponto, que se instala a minha tristeza e indignação.
Será que eu teria sido tão cega a ponto de passar a minha vida inteira acreditando no “diferente” e havia votado num igual?
Com os escândalos de últimos dois anos, que toda nação conheceu e que culminou em poucas cassações, raras demissões e nenhuma punição da qual possamos nos orgulhar, o Presidente, vendo o seu Partido mergulhado num lamaçal movediço, sempre afirmou que nada sabia, e consegue se reerguer politicamente, afastando os mais envolvidos de perto dele e apostando no sucesso dos programas sociais e nos reajustes do salário mínimo. Conquistando, segundo as pesquisas, uma posição confortável de eleito, já no primeiro turno.
Agora, a duas semanas das eleições, um novo escândalo vem à tona, envolvendo o PT e os assessores mais diretos do Presidente, um episódio que, visto pelo ângulo de que o candidato Lula tem uma situação privilegiada nessa eleição, nos confundem, exceto se analisarmos apenas pelo lado da eleição governamental de São Paulo.
Qual a real intenção do PT, em negociar um dossiê que compromete o PSDB, fazendo de forma tão amadora a ponto de ser descoberto rapidinho?
Se as fotos e os fatos se constituem em matéria puramente jornalística, porque os assessores mais diretos do Presidente se envolveriam nessa “tramóia” e pagariam para vê esse material publicado?
Quando Collor pagou a Mirian Cordeiro e expôs as declarações dela na TV, aquilo foi nojento, mas em que a sujeira do passado fede mais do que o lixo que se acumula no PT hoje ?
As minhas indagações são na tentativa de amenizar a minha indignação. O pior de tudo é vê aliados do Presidente justificando que o diferente do PT é que o Partido faz, mas pune os culpados, coisa que os adversários do passado não faziam. E nesse episódio do dossiê que custaria a bagatela de R$ 1,8 milhão todos sabiam, menos o Lula e Mercadante, principais interessados. Nessa história toda eu só tenho certeza de uma coisa: Quem não sabia, nem imaginava nada disso era eu e Raimundo!
Bernadete Cavalcante - Jornalista e colaboradora (sponte sua) deste blog.

Comentários

Anônimo disse…
bernadete a senhora está sendo injusta e de certa forma tendenciosa,veja o pt é um grande partido,evidente que tem os bons e os maus,onde fica a grande parcela de petistas honestos,entre os quias me incluo e que não devo pagar pelo erro de uma corja que não mereceia está no partido,não generalize,há muitos avanços e avanços que o governo de lula trouxe e não vou enumerá-los porque sei que a senhora é informada.última pergunta os verdadeiros petistas continuam no partido,será que raimundinho de mundoca ainda está ou pegou o beco?um grande abraço:maria josé

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