CARTOLAS FAZEM LOBBY PARA TENTAR FUGIR DE PUNIÇÃO.
Clubes e lobistas convencem senadores a segurar projeto que impõe sanções a ex-dirigentes de entidades esportivas acusados de gestões financeiras irregulares.
Cartolas dos principais clubes de futebol
visitaram diferentes órgãos da Esplanada dos Ministérios na última
semana, em busca de apoio para atrasar o andamento do projeto que impõe
sanções civis a ex-dirigentes de entidades esportivas responsabilizados
por gestões financeiras irregulares.
Segundo justifica o autor da
proposta, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), é preciso “evitar que
dirigentes ‘esvaziem os caixas’ de seus clubes ou federações”.
O Projeto
de Lei 429/12 altera a Lei Pelé (9.615/98) e tramita na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, em caráter terminativo, ou seja,
não precisa passar pelo plenário.
Desde 15 de julho ela está pronta
para entrar em pauta.
A expectativa era de que a proposta fosse incluída na primeira
reunião após o recesso parlamentar, marcada para ontem (7). Mas, diante
da ameaça às suas intenções de continuarem impunes, representantes dos
times de futebol e clubes formadores de atletas embarcaram imediatamente
para a capital federal em pleno recesso parlamentar.
Os lobistas foram mais
ágeis do que a burocracia e convenceram os parlamentares da chamada
“bancada da bola” a barrarem a tramitação do projeto, pelo menos por
enquanto.
A proposição tem parecer favorável do relator, senador Alvaro
Dias (PSDB-PR), e ainda pode ser incluída na extra-pauta caso algum
senador se interesse em discuti-la. Sendo aprovada, seguirá para a
Câmara.
Na prática, a proposta de Vital do Rêgo, que também preside a CCJ,
impediria que os gestores assumissem dívidas com vencimentos após o
término de seus mandatos.
As agremiações, federações e confederações que
se sentirem prejudicadas por qualquer ato administrativo impróprio
poderão pedir em juízo a expropriação patrimonial dos bens particulares
de seus presidentes, mesmo depois de concluído o período da gestão.
“A
medida visa a diminuir riscos de que dirigentes deixem dívidas
insolvíveis para seus sucessores ou se utilizem de créditos antecipados
de forma irresponsável, sem possível responsabilização posterior”,
explica Vital do Rêgo, na justificativa do projeto.
Com uma dívida de R$ 614,5 milhões, de acordo com o último estudo do
consultor em gestão e marketing, Amir Somoggi, o Botafogo foi o primeiro
a baixar em Brasília.
Na quinta-feira passada (1º), o presidente da
equipe alvinegra, Maurício Assumpção, foi recebido pelo presidente do
Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), a quem presenteou
com uma camisa do jogador Seedorf.
O senador alagoano tem um conhecido
histórico como defensor dos interesses da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) no Legislativo, de quem, inclusive, recebeu doações para a
sua campanha ao Senado, em 2002.
ARTICULAÇÃO
O encontro entre cartolas e políticos foi organizado, segundo uma
fonte próxima à presidência do Senado, pelo ex-assessor de Renan
Calheiros e atual diretor da Assessoria Legislativa da CBF, Vandenbergue
Machado.
Homem de confiança do presidente do Senado, Vandenbergue foi
lobista do ex-presidente da confederação Ricardo Teixeira. Foi mantido
no cargo pelo atual presidente da CBF, José Maria Marín, para
administrar as relações do futebol no Congresso Nacional.
Servidor aposentado do Senado, muito bem informado sobre o trâmite
dos projetos de lei referentes ao futebol e com trânsito livre na
presidência da Casa, Vandenbergue foi, a pedido de Assumpção, a pessoa
que encaixou o encontro na concorrida agenda de Renan Calheiros.
De acordo com um dos presentes na reunião, Maurício Assumpção também
pediu ao senador para interceder em favor do Botafogo, a fim de
“conseguir apoio financeiro da Caixa Econômica Federal” em socorro à sua
penosa situação financeira.
Logo em seguida, Assumpção fez “uma visita de cortesia” ao governador
do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, torcedor do Botafogo.
Oficialmente, os dois acertaram três jogos da Estrela Solitária em
Brasília: para o próximo dia 10, contra o Goiás, para o dia 13 de
outubro, contra o Flamengo, e contra o Vasco, no dia 20 do mesmo mês. A
assessoria do governador não confirmou se ele também foi solicitado a
interceder na bancada petista do Senado para tentar barrar o PL do
senador Vital do Rêgo.
Em outra ação da cartolagem, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo,
também recebeu representantes de times de futebol e de clubes formadores
de atletas, na sexta-feira passada (2).
Presidentes dos tradicionais
Fluminense, Vasco, Minas Tênis Clube, Iate Clube de Brasília, entre
outros, pediram para o governo intervir na Confederação Brasileira de
Clubes (CBC) para liberar logo os recursos que recebem do Ministério do
Esporte para a formação de atletas.
Reconhecido como um dos principais
articuladores da base aliada, Aldo Rebelo é constantemente procurado por
vários segmentos para intervir em favor de seus interesses.
Para Alvaro Dias, “é preciso resistir à constante pressão dos
dirigentes” que frequentam o Congresso Nacional. “Se o lobby aconteceu
dessa vez, é lamentável”, disse o senador. Segundo ele, o PL de Vital do
Rêgo “impõe mais rigor e vem na esteira de providências anteriores,
desde a CPI do Futebol, em 2000, para reduzir os índices de corrupção no
esporte”.
congressoemfoco
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