POBRE RIO GRANDE DO NORTE.
COMO A VIDA HUMANA VALE POUCO.
Por
Tiago de Medeiros Almeida (*)
Hospital
Walfredo Gurgel, dia 30/08/2012.
Devido
ao caos instalado na saúde pública do nosso Estado, creio eu que fruto de má
vontade política, acompanhada de má gestão e descaso com o povo, pacientes
brigam com os médicos e demais profissionais da saúde dentro do hospital,
buscando uma solução para seus problemas. Não sabem eles que o pobre do médico
e os funcionários não são culpados, mas são os que estão na linha de frente e
recebem todas as reclamações.
Hoje
recebi um paciente com dor crônica na perna há mais ou menos um mês, que devido
à ineficiência municipal da saúde, não consegue resolver seu problema. E já que
o problema dele deveria ser resolvido em ambulatório, com realização de exames
para investigação das causas da dor, o que eu poderia fazer naquele momento,
era prescrever analgésico, e dar alta. Ao ouvir que daria alta ao paciente, a
senhora que o acompanhava (irmã, esposa, não sei), começou a me agredir
verbalmente.
Em
situações assim, qualquer ser humano passa do seu estado normal para um estado
de estresse, ainda mais quando sabe que está fazendo o certo e que está sendo
injustiçado nas críticas, que deveriam ser direcionadas à outra instância.
Mesmo assim não contestei e terminei o tratamento conforme demandava o caso, e
dentro das minhas possibilidades locais!!
Terminado
este atendimento, passo a atender os outros pacientes, porém com um nível de
estresse elevado. Em um determinado momento, entra no consultório da Ortopedia,
uma senhora muito educada e humilde, procedente da cidade de Serra Caiada, que
me indaga: - Doutor, tenho um filho de 12 anos que está com fratura de
antebraço há mais ou menos 7 dias. Gostaria de saber quando ele será operado...
Antes que eu contestasse, ela completou que o problema maior, é ela é pai e
mãe, que cuida sozinha dos filhos, e que além do menino que está no hospital
ela tem uma filha de 15 anos, e que está sozinha em casa.
Neste
momento, diante de tamanha educação e humildade, comecei a explicar que a
pessoa menos indicada para que ela fizesse esta pergunta seria eu. Mas como sou
pai, no momento que falava, me coloquei no lugar dela e rapidamente minha
frieza da medicina se esvaiu. Fui às lágrimas frente a paciente, que também
começou a chorar.
Acho
deprimente isso que está acontecendo, e acho que não sou o único que está com
esse sentimento de impotência, é tanto que inúmeros colegas estão pedindo
exoneração. E como se não bastasse o médico ter que cuidar do biológico do
paciente e psicológico do paciente, ele também está evoluindo para problemas
psicológicos.
Acho
que nunca estivemos tão ruins em matéria de saúde. E o engraçado, ou o mais
grave, é que a gestora do nosso Estado é médica. Mas acho que ela já não tem
noção do que é trabalhar na saúde pública, em prol dos necessitados e
angustiados. Eu faria uma analogia dizendo que hoje se a saúde fosse um
paciente estaria na porta da UTI agonizando, sem poder entrar, pois a mesma
está fechada e NINGUÉM faz nada para salvá-la.
Peço
às entidades competentes que façam algo sobre este descaso. Muitos familiares
estão pagando o preço de ver seus entes falecerem, ou ficarem com sequelas,
mutilados. Hoje nosso hospital (Walfredo Gurgel) não tem a mínima condição
digna de funcionamento. Nem um hospital de guerra é tão mal equipado e funciona
tão precariamente como o nosso hospital.
Este
é um hospital que recebe tudo e todos do Estado, e deveria ter condições
mínimas de prestar um atendimento digno a esta população tão sofrida. E não só
à população tão sofrida, até porque, todo paciente politraumatizado vai para
lá, independente da classe social, e de ter plano de saúde ou não.
Este
é o desabafo de um médico que acredita que o Estado pode funcionar, que ama a
medicina, e por isso briga por ela!
(*)
Tiago de Medeiros Almeida é médico ortopedista e traumatologista e integra os
quadros do hospital Walfredo Gurgel, o maior do Rio Grande do Norte.
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